Após mais de 40 anos de experiência em engenharia eletrónica ao serviço da segurança ferroviária, na Triple E contamos com um plano estratégico que duplicou o negócio nos últimos cinco anos, uma aposta firme na inovação e com o olhar voltado para novos setores para além do comboio.
Nesta entrevista, o nosso General Manager, Julián Romasanta, partilha a sua visão sobre diversos aspetos, como o futuro da segurança ferroviária, a evolução dos sistemas SIL2, o papel da inteligência artificial na prevenção de riscos, a internacionalização da empresa e a abertura a indústrias como a marítima ou a energética. Uma conversa que mostra como a nossa experiência transcende fronteiras e setores, tendo a inovação e a segurança como eixos centrais.
Introdução e contexto
– Como descreveria o momento atual da Triple E no setor ferroviário?
– Totalmente focados e comprometidos com o setor ferroviário. Não apenas por uma trajetória de quase 30 anos como integradores de sistemas eletrónicos de segurança, mas também por um posicionamento claro e contundente desde 2021, quando lançámos o nosso plano estratégico para consolidar-nos como fornecedores chave num setor líder em transporte e realizámos os investimentos e reestruturações necessárias.
– Que balanço faz dos últimos anos em termos de crescimento, inovação e liderança?
– Estamos muito orgulhosos de uma equipa capaz de posicionar a Triple E como fornecedora essencial de soluções para o ecossistema ferroviário. Só com uma equipa comprometida é possível, em cinco anos, duplicar o volume de negócio. Os nossos engenheiros tiveram a capacidade de antecipar o cenário que se aproximava: renovação de frotas, digitalização, garantir a segurança das pessoas e enfrentar outras ameaças cibernéticas.
Visão de futuro no setor ferroviário: Sistemas SIL2 e IA
– Que desafios acredita que marcarão o futuro da segurança ferroviária nos próximos 5-10 anos?
– A médio prazo, temos de garantir um equilíbrio entre crescimento, digitalização e prevenção. Para tal, trabalhamos em soluções escaláveis, capazes de interagir com múltiplos sistemas e totalmente seguras face a novas vulnerabilidades. Mantemo-nos focados no desenvolvimento de software com padrões de fiabilidade extremamente elevados. A IA abre-nos uma capacidade preditiva inédita, para evitar o sinistro e não apenas mitigá-lo.
– A Triple E é reconhecida pelo seu know-how em sistemas SIL2. Como continuará a evoluir esta área?
– Após anos de intenso trabalho e investimento, dispomos de soluções SIL2 360. Abarcamos desde a deteção até à extinção pelos métodos que o cliente necessitar. O nosso foco agora é continuar a acompanhar outros sistemas do comboio e desenvolver comunicações SIL2, contribuindo assim para criar um ambiente totalmente seguro, para além da nossa própria solução.
– Onde vê maior margem de inovação na segurança eletrónica ferroviária?
– Em saber aproveitar todo o potencial que a IA oferece à segurança. Qualquer especialista em segurança diz-nos que a melhor forma de mitigar um sinistro é preveni-lo. O nível de sensorização e análise que a IA proporciona coloca ao nosso dispor ferramentas até agora desconhecidas. A eletrónica avançada contribuirá para escalar exponencialmente a cibersegurança de toda a indústria e permitirá a convivência de múltiplos sistemas para enfrentar qualquer tipo de risco.
Abertura a novos setores
– A Triple E sempre esteve ligada ao setor ferroviário, mas agora falam em expandir para outros setores. O que motivou esta decisão estratégica?
– Mais do que sempre ligada ao ferrovia, eu diria que a Triple E sempre esteve ligada à segurança. A equipa tem isto no ADN; há 45 anos protegíamos edifícios com tecnologia analógica. Com a entrada de novos investidores e o desenvolvimento digital que estamos a viver, sentimos que temos capacidade para exportar este conhecimento e replicar soluções tão exigentes quanto as do transporte ferroviário.
– Por que indústrias como a marítima ou energética são um terreno natural para aplicar a experiência da Triple E?
– Vemos muitas semelhanças que tornam estes setores propícios: são ambientes hostis para a eletrónica (temperaturas, humidade, ambientes salinos…) nos quais já demonstrámos as nossas capacidades. A segurança sem dependência humana é vital para salvaguardar vidas e ativos. A sensorização e fiabilidade aplica-se perfeitamente para proteger zonas sem necessidade de intervenção direta do ser humano.
– Que aprendizagens do setor ferroviário podem ser mais valiosas para estes setores?
– A regulamentação europeia para garantir a segurança ferroviária e a fiabilidade dos sistemas é uma das mais exigentes na indústria civil. Se o incêndio não puder ser evitado, é fundamental uma intervenção imediata. Infelizmente, já vimos as consequências de incêndios descontrolados ou falhas na rede elétrica. Diria: fiabilidade frente a situações críticas.
– Qual é a proposta de valor para um cliente fora do setor ferroviário que ainda não conhece a Triple E?
– A metodologia e a solução final exigida pela certificação SIL2 é totalmente exportável para qualquer setor que necessite de eletrónica de segurança.
Escuta ativa e co-criação
– Comentaram que querem ouvir clientes de outros setores para adaptar soluções. Pode dar um exemplo de como uma necessidade de um cliente se transformou numa solução inovadora?
– Uma das qualidades da Triple E mais valorizadas pelos clientes é a capacidade de adaptação da solução aos múltiplos requisitos do projeto: requisitos técnicos, regulamentação local, aspetos específicos do serviço… Detectámos que os clientes valorizam soluções chave na mão “plug & play” e desenhámos racks com todo o sistema de extinção instalado, para que o cliente receba uma única unidade pronta a ligar e a operar.
– Que mensagem enviaria a empresas desses setores que ainda não sabem que a Triple E pode ser um aliado?
– Que nos desafiem. Há quase 30 anos protegemos o primeiro comboio. Hoje, 7.000 veículos utilizam tecnologia Triple E e estamos presentes nos cinco continentes.
– Como mantêm o equilíbrio entre inovação e garantia de segurança, que é o vosso selo?
– Investimento em I&D+i e um protocolo de qualidade e fiabilidade que garantem que as soluções lançadas no mercado passaram por rigorosos testes internos. Estamos muito orgulhosos tanto das equipas de desenvolvimento como dos profissionais que validam e verificam as soluções que queremos implementar.
Internacionalização
– A Triple E já está presente na Índia, Brasil, Austrália… Que aprendizagens traz esta expansão?
– Toda experiência internacional é enriquecedora. Obriga-nos a adaptar-nos a normas locais e práticas culturais, retroalimentando as soluções que propomos aos clientes. Quando falo com eles, valorizam especialmente o trabalho de venda consultiva que realizamos.
– Como gerem a colaboração com parceiros locais em países estratégicos?
– O mais difícil é encontrar um parceiro que se encaixe culturalmente com a Triple E. Refiro-me à cultura empresarial. Queremos que o cliente final perceba sempre que somos seu parceiro de viagem e que procuramos conjuntamente a melhor solução para cada projeto. Não nos interessa volume de baixo valor; queremos que o parceiro local compreenda que a nossa função é permitir que o fabricante se concentre noutras áreas tecnológicas, confiando que estaremos sempre ao seu lado.
– Que mercados consideram prioritários para o futuro próximo?
– Mantendo a nossa liderança em Espanha, Portugal e América Latina, queremos trabalhar com mais fábricas na Europa. Na Índia estamos muito ativos: é um país com grande cultura ferroviária, o governo alocou orçamentos para uma grande remodelação e estão a regular com altos requisitos de segurança. Marrocos, com quem temos uma tradição comercial, também é muito interessante.
– Qual é o impacto da internacionalização na cultura empresarial interna?
– Muito grande. Obriga a abrir ainda mais a mente e traz sempre novas ideias. Gosto de ver a minha equipa a ajudar clientes em países tão diversos como Arábia, Austrália ou Egito.
Sustentabilidade e responsabilidade social
– O que significa sustentabilidade para a Triple E no setor ferroviário?
– Estamos muito conscientes da sustentabilidade. Sabemos que ajudamos setores que contribuem diretamente para reduzir emissões e proteger o futuro do planeta. Participamos ativamente no pacto global da ONU e possuímos certificados ambientais que comprovam este compromisso.
– Como contribuem para que os comboios sejam mais eficientes e sustentáveis?
– De forma muito ativa. Evitar sinistros evita emissões derivadas do consumo energético. Usamos tecnologia eficiente com baixo consumo e práticas responsáveis. As nossas equipas cumprem toda a regulamentação ambiental internacional. As nossas soluções não têm obsolescência programada, reduzindo ao máximo os resíduos eletrónicos.
Em suma, a trajetória e visão da Triple E mostram que segurança e inovação não são um destino, mas um caminho constante de melhoria. Uma equipa que combina experiência, tecnologia e escuta ativa para criar soluções adaptadas a cada ambiente e necessidade. Se procura um parceiro capaz de desenhar e acompanhar projetos de engenharia eletrónica de segurança com máxima fiabilidade, estamos prontos para analisar o seu sistema e encontrar a melhor solução.