No panorama da alta velocidade ferroviária espanhola, há um comboio que se destaca, não só pela sua alcunha peculiar, mas também pela sua contribuição significativa para a inovação no transporte ferroviário: a Série 443 da Renfe, carinhosamente conhecida como “El Platanito”. Este comboio, que teve o seu início num acordo histórico entre Umberto Agnelli, Conselheiro Delegado da FIAT, e a RENFE, deixou uma pegada indelével na história do caminho de ferro na Espanha.
Um Acordo Visionário (1972-1976)
O dia 28 de setembro de 1972 marcou o início de uma colaboração visionária entre a FIAT e a RENFE. Umberto Agnelli chegou a Madrid para assinar um acordo que daria vida a um protótipo de comboio basculante, concebido para reduzir os tempos de viagem nas linhas ferroviárias espanholas, especialmente em traçados sinuosos. O projeto foi materializado em dois protótipos: um para experimentação em linhas italianas e outro para a Espanha, batizado com a distintiva cor amarela alaranjada e a alcunha “Platanito”.
Inovação em Movimento
Este protótipo revolucionário apresentou avanços notáveis na tecnologia ferroviária da época. Tinha um complexo sistema de oscilção ativa, permitindo a inclinação das carruagens nas curvas de até 8 graus para compensar a força centrífuga, garantindo um conforto absoluto em curvas fechadas a 120 km/h. Além disso, introduziu características inovadoras como as cabinas com o assento do maquinista no centro e os conversores estáticos, reduzindo a frequência das avarias.
Da Promoção aos Desafios (1976-1987)
Apesar de estar preparado para operar comercialmente a 180 km/h e ter ultrapassado os 200 km/h em testes experimentais, “El Platanito” enfrentou diversos desafios, devido principalmente à avançada tecnologia dos seus sistemas. Em 1977, a RENFE optou pelo Talgo Pendular, um sistema de pendulação passiva de construção mais simples. Embora na Itália se tenham construído vários Pendolinos baseados no ETR-401 (gémeo italiano de “El Platanito”), a Série 443 ficou como um exemplar único na Espanha.
Novos Horizontes e Despedida (1987-Presente)
Ao longo dos anos, “El Platanito” foi relegado gradualmente do serviço comercial, limitando-se o seu uso à criação de comboios turísticos nos anos ’80. Em 1987, conseguiu um recorde de velocidade de tração elétrica ao alcançar os 206 km/h durante testes na Linha de Madrid-Alicante. No entanto, as múltiplas avarias e a retirada definitiva do serviço no Depósito de Fuencarral marcaram o fim da sua carreira operacional.
Em julho de 1995, a Fundação dos Caminhos de ferro Espanhóis cedeu “El Platanito” à ACAF (Asociación Castejonera de Amigos del Ferrocarril), onde foi exposto em Castejón de Ebro. Desde 2013, a AAFEP retomou o trabalho de restauração e preservação do icónico comboio.
Um Futuro de Preservação (Presente e Futuro)
Hoje, “El Platanito” permanece na mesma via de Castejón de Ebro, sendo objeto de campanhas anuais de restauração por parte da AAFEP. Este comboio, que marcou o caminho para futuras inovações na alta velocidade ferroviária, representa não só um capítulo histórico no caminho de ferro espanhol, mas também um testemunho da dedicação daqueles que se esforçam por preservar o seu legado.
Desde a sua conceção inovadora até aos seus avanços tecnológicos, “El Platanito” continua a ser um marco na história ferroviária da Espanha, um lembrete tangível da audácia e visão que impulsiona a evolução contínua do transporte ferroviário no país. No coração de cada parafuso e carril desta Série 443 reside a narrativa de uma época de inovação que abriu o caminho para as gerações futuras.