Abordamos os segredos da segurança eletrónica no ambiente ferroviário com Silvia Gómez Martín, a nossa engenheira de software incorporado. Silvia destaca a importância das soluções de segurança eletrónica na prevenção e resposta a ameaças, tanto físicas como cibernéticas, realçando, além disso, os benefícios que estas soluções podem oferecer em termos de eficiência e rentabilidade às empresas ferroviárias.
Como é que as soluções de segurança eletrónica podem ajudar a prevenir e responder a ameaças como intrusões, vandalismo ou sabotagem no ambiente ferroviário?
Para responder à sua pergunta temos que distinguir entre dois tipos de ameaças: Primeiro, a agressão física e tangível pela qual alguém poderia atentar diretamente contra um ativo ferroviário, tendo em vista danificar os bens e até mesmo acabar por afetar a integridade das pessoas. Para tal, estamos há mais de vinte anos a conceber soluções que permitam uma prevenção com base nas sensorizações e uma atenuação para parar quanto antes os efeitos adversos. Aqui é vital que se tenham equipamentos muito fiáveis que respondam da forma mais efetiva possível.
A segunda vertente é mais complexa e atual. No processo de digitalização imparável que o setor vive apareceu a figura do cibercriminoso. Já não é necessária uma atuação física contra o bem, mas pode exercer a sua ação a partir de qualquer lugar do mundo. Face a este desafio, desenvolvemos equipamentos com a tecnologia de ponta em cibersegurança, tanto hardware como software, que nos permitem a garantia máxima da integridade, tendo em conta as limitações que um sistema incorporado impõe.
Que papel é que a cibersegurança desempenha na segurança eletrónica ferroviária e como é que se abordam os desafios relacionados com as ameaças cibernéticas?
Os sistemas eletrónicos relacionados com a segurança são equipamentos com software incorporado ou embebido. Significa isto que muitas medidas que são habituais na área de trabalho também são implementadas nos equipamentos, como por exemplo os corta-fogos. As funções de segurança também devem estar integradas no próprio sistema.
Seguindo a regulação UNE 62443, incorporámos a cibersegurança nos nossos processos de conceção. Mediante uma análise de vulnerabilidades, chegámos à conclusão de que é necessário implementar medidas, como uma proteção contra a recusa de serviço (DoS), prevenção de intrusões ou lutas contra ataques de força bruta, além da implementação de uma atualização de software seguro por intermédio de uma assinatura digital e, logicamente, de criptografia com cifragens com ou sem simetrias. Não menos importantes são as revisões periódicas, que agora temos que fazer acedendo ao sistema para garantirmos que temos sempre a proteção mais atualizada.
Quais é que são os benefícios mais significativos que as soluções de segurança eletrónica podem oferecer às empresas ferroviárias em termos de segurança, eficiência e rentabilidade?
Desde que entrei na Triple E sempre achei muito claro que o nosso fim último é proteger a vida dos utilizadores. Por isso, quando concebemos temos uma obsessão: que o nosso sistema seja totalmente fiável e robusto sob condições muito extremas: temperaturas, tensões elétricas, contaminação ambiental, etc. Como engenheira, a minha forma de contribuir para a eficiência e rentabilidade vem pelo lado da prevenção. Graças às novas soluções podemos antecipar situações não desejadas e evitá-las. A digitalização também implicou conetividade e monitorização permanentes e acessíveis a partir de qualquer localização. Mas quero insistir que, quando trabalho, no meu dia a dia, a minha obsessão é aplicar todos os meios necessários para proteger a vida das pessoas.
Qual é que acha que será o futuro da segurança eletrónica ferroviária e que avanços é que espera ver nos próximos anos?
Tenho a sensação de que estamos a viver uma transformação sem precedentes no setor ferroviário. Estamos a passar do entendimento do caminho de ferro como um meio mecânico para se ir de um ponto para outro a uma solução global de transporte. E, como passageiros, não só beneficiamos da digitalização do setor ferroviário mediante sistemas que garantem o conforto, mas que também velam ao máximo pelo nosso bem-estar. Com efeito, o crescimento da interligação permanente das infraestruturas do comboio faz e fará do transporte por comboio talvez o meio mais seguro para se viajar. Além disso, esta interligação faz com que se possa dispor de todos os dados das infraestruturas que permitirão reforçar a prevenção e, desta forma, nos concentremos na prevenção de sinistros.